Guerra às drogas: contra todos e contra ninguém!*

 

Ítalo Coelho de Alencar

 

Seja você a favor ou contrário, usuário ou não, este assunto lhe diz respeito.

Sempre presente nos noticiários de TV, rádio ou internet, a temática das drogas é uma constante em nossas vidas. Ainda que seja um conceito vago, este tema traz paixões ao debate sempre que vem à tona. Este boletim tem o intuito de discutir alguns aspectos históricos da relação da humanidade com estas substâncias, da política proibicionista adotada no mundo e no Brasil, e a eficiência – ou não – do combate aos danos sociais causados por esta.

Para começar a esmiuçar, é preciso definir o que seria “Droga”. Segundo a Organização Mundial de Saúde, é toda substância que, introduzida no organismo, interfere em seu funcionamento. Disto, pode-se deduzir que aquele café para espantar o sono, o chá para melhorar de uma dor de cabeça, chocolate para aliviar os sintomas da TPM, a cerveja pra diminuir o estresse ou mesmo o cigarro de maconha para acalmar fazem parte do mesmo gênero.

Até o início do século XX, drogas como maconha, cocaína e ópio eram usadas por muitas pessoas como medicamentos ou mesmo como forma de diversão. No entanto, por diversos fatores – políticos e econômicos, principalmente – esta história muda drasticamente.

 

  • Uma boa desculpa pra fazer Guerra

Da famosa Lei Seca (1919) surge o temido Al Capone (LEGENDA)

A partir do início dos anos 1900, com o aumento da oferta em escala mundial, somado às péssimas condições de vida da classe trabalhadora, após a Revolução Industrial, começa a se tornar mais visível o uso abusivo e a dependência de drogas, ainda lícitas, em sua maioria. Devido ao uso destas por grupos socais tidos como perigosos para o status quo, passa-se a articular a política proibicionista pelos países que dominam o sistema capitalista.

Em 1912, na cidade de Haia, Holanda, aconteceu uma conferência da que debateu e encaminhou o primeiro tratado internacional sobre drogas. Mais especificamente sobre o ópio, devido às críticas em relação à tolerância dos países a seu consumo. Esta reunião foi resultado da conferência convocada pelos EUA, em 1909, chamada de Convenção Internacional do Ópio. O tratado resultante daquela foi assinado por Alemanha, EUA, China, França, Reino Unido, Itália, Japão, entre outros, sendo ratificado pela Liga das Nações, embrião da ONU, em 1923. A Convenção previu que “os Poderes contratantes envidarão os seus melhores esforços para controlar, ou para fazer com que sejam controladas, todos os tipos de fabricação, importação, venda, distribuição e exportação de morfina, cocaína e de seus respectivos sais”.

No caso dos EUA, que tinha uma população crescente de imigrantes em seu mercado de trabalho, concorrendo com a mão-de-obra nativa, este tratado foi implementado em 1915. Baseado em um discurso xenófobo, semeia a ideologia contra os imigrantes mexicanos, que consumiam maconha, assim como os irlandeses, adeptos do hábito de ingerir bebidas alcoólicas e os asiáticos, apreciadores de ópio, relacionando-os a vadiagem, desordem e violência. Consequentes com isto, e apoiados na doutrina puritana da temperança, que pregava a abstenção dos prazeres terrenos, em 1919 edita a chamada Lei Seca, onde proíbe a fabricação, comércio e consumo de bebidas alcoólicas. Estrutura o aparelho estatal para a perseguição daqueles que ousarem infringi-la.

Como a demanda não diminuiu, a produção se fortaleceu. Agora de forma clandestina, à margem da legalidade, o que favoreceu o crescimento das máfias em torno desta indústria. Tornando vultosos os lucros, sem nenhuma taxação. Portanto, quem se aventurava nesta atividade, auferia lucros imensos, assim como o poder de sua rede de corrupção de agentes públicos e aumento da violência neste ramo. O mais conhecido destes “empresários”, surgidos com a Lei Seca, foi Al Capone.

Tal política se mostrou inútil, do ponto de vista de reduzir o consumo e seus danos. Porém foi um sucesso do viés econômico para a nascente indústria da proibição e da guerra. Em 1933 esta lei foi revogada. Todavia, o aparelho estatal burocrático, assim como o crime organizado mudou de ramo. A partir daí, surge a proibição da maconha. Desta vez com discurso dirigido aos imigrantes mexicanos, muito mais numerosos e incômodos, no contexto de aprofundamento da crise capitalista de 1929.

  • Inimigo pero no mucho

Em todo o mundo há cerca de 243 milhões de pessoas consomem drogas ilícitas (LEGENDA)

Já sob a égide da ONU, depois da II Guerra Mundial, a política proibicionista se alastrou pelo mundo, ao mesmo tempo que o surgimento de novas drogas e o consumo das conhecidas, não parou de crescer. Mesmo com o aumento da repressão, atualmente no mundo há cerca de 243 milhões de pessoas[1] consomem drogas ilícitas, o que representa 5% de população. Destes, 27 milhões apresentam uso problemático de psicoativos. Quando se trata de drogas lícitas, álcool e tabaco lideram a lista de consumo. O discurso proibicionista se baseia na proteção da saúde pública, o que contrasta com os dados relativos aos danos sociais causados pelas drogas permitidas em quase todos os países ocidentais.

No Brasil, um estudo elaborado pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde, aponta que, entre 2006 e 2010, foram contabilizados 40,6 mil óbitos causados por substâncias psicoativas. O álcool aparece na primeira colocação entre as causas, sendo responsável por 85% dessas mortes. Quando o assunto é cigarro, este mesmo estudo aponta que 4,6 mil pessoas morreram vítimas desta droga. Portanto percebe-se que é o lucro, e não a preocupação com a saúde, que rege o mercado e as políticas públicas de drogas.

 

  • O caos social como consequência

Com o aumento do desemprego entre os jovens, principalmente entre negros, moradores de áreas com índice de Desenvolvimento Humano muito baixos, sem acesso a educação, saúde e moradia, o tráfico recruta seus funcionários. Relatório de ONU de 2005 aponta que 45% dos jovens entre 15 e 24 anos vivem com menos de dois dólares por dia, se tornando alvos fáceis da sedução de uma vida melhor ao trabalharem para o tráfico. Das mulheres presas, metade foi por algum envolvimento com o tráfico. Entre os homens, um em cada quatro está encarcerado é por este motivo.

Em 2014 a Comissão de Narcótico das Nações Unidas concluiu em seu relatório que a economia do narcotráfico movimenta, anualmente, em todo mundo, uma cifra de 320 bilhões de dólares (em reais, ultrapassa um trilhão). Com estes dados, não é difícil concluir que quem lucra com esta atividade não são os moradores da comunidade. Todavia, são estes que “pagam o preço” da guerra.

Portanto, não é difícil de concluir que a tal guerra é estéril, tanto em resultado quanto em seu propósito.

A “lei de Drogas” (11.343/06)[2] em vigor no país, ao não estabelecer critérios objetivos para identificar quem pratica a conduta de tráfico de drogas, deixa a critério do delegado de polícia ou Ministério Público definir quem deve ser preso. A partir de um Recurso Especial (R.E 635659) em um processo, com repercussão geral, está sendo debatida no Supremo Tribunal Federal a constitucionalidade artigo 28 da Lei, que trata de “adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização (…). Dos três votos já computados, todos foram favoráveis à inconstitucionalidade deste. No entanto, após mais um pedido de vistas, o julgamento foi suspenso sem previsão de retorno à pauta.

 

  • Existe solução?

 

Muitos países estão revendo sua legislação sobre as drogas, como Holanda, México, Portugal e Espanha, com base nos resultados desastrosos desta guerra. O exemplo mais emblemático é o dos EUA.

País dirigente da política proibicionista em nível mundial, já tem vários exemplos positivos com a Legalização da Maconha, que é a droga mais consumida. Quando se trata de uso medicinal, 22 estados já possuem legislações que regulamentam a produção, circulação e comércio. Quando se trata de uso recreativo, quatro já o fizeram.

Ao contrário do que se imagina, a legalização não fez com que o consumo aumentasse. Em alguns casos, chegou a apresentar queda[3]. Da mesma forma, o índice de crimes que envolviam o tráfico teve um importante declínio. O que aumentou consideravelmente foi a arrecadação de impostos sobre este ramo econômico.

Outro exemplo de sucesso, mais próximo a nós, é o Uruguai[4]. Desde 2014 este país passou a regular o plantio, consumo e circulação da maconha. Os resultados positivos são facilmente observados. Agora, a droga pode ser vendida, com licença para a ironia, em farmácias e drogarias. O tráfico e mortes causadas por este deixaram de existir.

Nesta mesma toada, Colômbia, Chile e Argentina estão discutindo as melhores formas de armistício.

Em todo o mundo, movimentos sociais anti-proibicionistas ganham as ruas, com crescente apoio popular, para exigir do Estado a mudança de paradigma no tratamento deste assunto. Ao invés de investimento massivo em armas e repressão, é preciso legalizar todas as drogas, estatizando a cadeia de produção, circulação e comércio, para que sejam gerados empregos dignos aos que nela trabalham e que as riquezas geradas sejam investidas em áreas sociais, como saúde, educação e assistência psicossocial dos usuários, a fim de prevenir a sociedade dos riscos e minimizar os danos decorrentes do uso.

 

*Publicado originalmente no Boletim Contra-Corrente 65 do ILAESE.

[1] http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2014/06/26/onu-apesar-de-estavel-consumo-de-drogas-atinge-243-milhoes-no-mundo.htm

[2]  http://ultimosegundo.ig.com.br/2014-09-23/677-dos-presos-por-trafico-de-maconha-tinham-menos-de-100-gramas-da-droga.html

[3] http://www.hypeness.com.br/2015/07/quais-foram-os-impactos-do-uso-medicinal-da-maconha-nos-paises-que-o-legalizaram/

[4] http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2015/08/experiencia-do-uruguai-com-liberacao-completa-da-maconha.html

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A repressão policial nos espaços públicos e a Representação Social do traficante de drogas

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A imagem mostra a repressão da PM do Rio de Janeiro contra jovens moradores de periferia que frequentam as praias nos fins de semana, mas cenas como estas também podem ser observadas facilmente nas prias da capital cearense. FOTO –  Eduarto Naddar / Agência O Globo

Elizeu Santos

O seguinte texto foi inspirado num fato que ocorreu durante uma reunião da Marcha da Maconha Fortaleza, no último domingo (15/01), onde alguns companheiros e eu debatíamos pautas do movimento e deliberávamos alguns pontos sobre a Marcha de 2017. A reunião aconteceu à beira da praia, no Poço da Draga, vizinho à Ponte Metálica (Praia de Iracema). Este local da praia é ocupado não só por pessoas que moram na comunidade, mas por surfistas, famílias e jovens em geral de diferentes partes da cidade de Fortaleza e no domingo a praia lota. Tocávamos a reunião normalmente, quando de repente olho para trás e vejo um verdadeiro exército de policiais fortemente armados, uns a pé e outros de moto. Continuamos onde estávamos, observando que tipo de ação a PM-CE executaria ali. Para que(m) tanta polícia?

Sob o pretexto de combater o uso e a venda das drogas tornadas ilícitas, os PMs já chegaram como manda a cartilha fascista da organização que fazem parte. Enquanto uns ficaram de plantão na rua da saída da praia, outros foram na direção das pessoas que estavam na praia. Dezenas de policiais revistando de forma truculenta, agredindo física e verbalmente e mandando algumas pessoas irem embora para suas casas. Toque de recolher em pleno domingo à tarde. Em poucos minutos um ambiente de lazer e descanso se transformou e surgiu um clima tenso, de insegurança. Se você tem o mínimo de conhecimento sobre a realidade da repressão policial no Brasil, já imaginou a cor da pele e a classe social da maioria das vítimas da violência policial neste episódio.

Os policiais, talvez por não perceberem de que se tratava o nosso debate, e que posição temos diante da Polícia Militar, não nos incomodaram. Éramos quase todos brancos, alguns universitários, enfim: um perfil diferente da “clientela preferencial”. Finalizamos nossa reunião e caminhamos, alguns camaradas e eu, para o Aterro da Praia de Iracema, onde acontecia um evento esportivo com musica ao vivo. Lá o ambiente não era tão diferente do Poço da Draga: pessoas tomando banho de mar, se divertindo e usando drogas (coisa que acontece em qualquer ambiente recreativo. Quando não é maconha, são drogas mais socialmente aceitas ou de uso mais facilmente disfarçado). Porém havia uma grande diferença entre os dois ambientes: o público que ocupava o local era, em sua maioria, branco e aparentemente de classe média. Não vimos sequer um policial lá.

O que simboliza esse tipo de ação do Estado? Combate ao tráfico de drogas? Se assim fosse, porque não nos revistaram durante a reunião, ou não se fizeram presentes nos dois eventos de forma igual? Ou será que eles acham que universitário/classe média/branco também não usa drogas? O Estado Burguês é tudo, menos ingênuo.

Quem é o traficante?

Criou-se na sociedade um estereótipo dos traficantes de drogas, ancorando à essa categoria características específicas como: cor da pele, classe social e lugar onde moram, e difundiu-se essa figura pelo imaginário do senso comum. Mesmo os que estão atuando no comércio ilegal de drogas, no varejo, que se enquadram nessas características estão longe de ser os verdadeiros responsáveis por este mercado bilionário. Se fôssemos representar o traficante de forma que correspondesse à realidade, deveríamos pensar na imagem de um bancário, nos lordes do sistema financeiro, nos políticos donos de helicópteros carregados de cocaína. Não existe plantação de coca nas favelas e muito menos favelado dono de helicóptero.

Grande parte dessa representação cruel e seletiva da figura do traficante que permeia o imaginário coletivo deve-se a mídia e seus programas policialescos, que além de fomentarem o discurso de ódio contra essas pessoas, também legitimam toda e qualquer ação do Estado, não só contra os ditos “traficantes”, mas também contra qualquer um que carregue uma ou mais das características que compõe esse estereótipo. Contra estes tudo pode e até oque não é legítimo, por lei, é legitimado através da manipulação do discurso das massas. É o Estado de Exceção operando na prática da guerra às drogas e massacrando os Direitos Humanos de toda uma classe.

A seletividade policial, assim como tudo em nossa sociedade, deve ser analisada em seu caráter histórico e essa análise pode ser feita quando estudamos a intenção de criminalização de determinados grupos sociais pelo Estado através da proibição de algumas drogas, porém é importante atribuir parte deste fenômeno ao discurso higienista da criminologia.

Na segunda metade do século XIX, ganha força no meio jurídico brasileiro o pensamento de Cesare Lombroso. Segundo ele, o criminoso seria “uma espécie a parte do gênero humano”, com características físicas diferentes do “homem honesto”. Lombroso acreditava que os criminosos tinham um padrão de características em comum, que iam desde o formato da cabeça, má formação das orelhas e até insensibilidade à dor física.

Um pouco depois a criminologia brasileira começa a olhar não só para as características físicas dos criminosos, mas também passam a tentar relacionar um padrão de comportamentos compartilhado por estes, e encontra base teórica no discurso do “anormal moral”, de Enrico Ferri. Segundo ele este padrão de comportamentos indicava uma “anormalidade”, uma tendência para o crime. Em sua teroria, Ferri atribui estes comportamentos às camadas sociais menos abastardas, e taxa os indivíduos pertencentes as classes menos favorecidas como “criminosos em potencial”, o que justificaria, segundo ele, a aplicação de penas maiores e a vigilância policial mais ostensiva para essas pessoas.

Tanto a teoria das características físicas quanto a dos comportamentos ditos “antissociais”, estão presentes (de forma mais sofisticada) como critérios de seleção do sistema penal até os dias de hoje. Características físicas, como cor de pele e comportamentos, como antes acontecia com o samba e a capoeira, por exemplo, e hoje acontece com a questão das drogas, são fatores que têm grande relevância na probabilidade de um cidadão comum brasileiro ter seus Direitos Humanos violados pela polícia a qualquer momento.

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A Guerra que deu certo

Mais uma guerra sem razão, já são tantas as crianças com armas na mão, mas explicam novamente que a guerra gera empregos e aumenta a produção.

Renato Russo

Vivemos em um país onde a política serve aos interesses das grandes corporações burguesas, basta olhar para bancadas como a da bala e a dos ruralistas para perceber isso. Grupos de políticos financiados por empresas de qualquer ramo defendem com unhas e dentes os interesses dos seus “patrões” dentro da política nacional. Mas se os capitalistas são tão influentes nos rumos que a política toma, por que ainda vivemos em uma realidade social tão violenta, onde todos os dias morrem pessoas vítimas de uma guerra que nunca deu certo? A resposta parece óbvia: “por que a maior parte da violência na sociedade é proveniente da guerra às drogas, algo que foge do controle até mesmo do grande capital”.

Porém este é um raciocínio cômodo, e por isso perigoso. Ao abraçar este discurso estaremos cometendo o terrível erro de subestimar o capitalismo. E se tem uma coisa que este sistema não é, é incompetente quando o assunto é opressão. A questão é que para o capitalismo a guerra às drogas deu certo sim. Tanto do ponto de vista econômico quanto do ponto de vista social.

Os economistas liberais defendem a Teoria do Estado Mínimo, onde uma “Mão Invisível” regula todo o mercado sem a necessidade de o Estado intervir enquanto mediador das relações neste meio. Pois bem, existe mercado mais liberal que o mercado ilegal? A ONU alertou em 2014 para a movimentação de cerca de U$ 320 bilhões por ano no mundo inteiro oriundo do tráfico de drogas. Imagine todo esse dinheiro livre de impostos. Imagine o mercado imenso que este dinheiro faz girar sem intervenção nenhuma do estado. Pense nos milhões de empregados do trafico sem nenhum direito trabalhista assegurado. Não existe mercado mais liberal que este.

Mas toda essa grana precisa necessariamente de um “ralo” que a escorra de volta para a legalidade, a final de contas o traficante que podemos ver; aquele mesmo que é estigmatizado pela mídia como bandido, responsável pelo mal, mas que na verdade não passa de um varejista, pode simplesmente usufruir do seu lucro sem se preocupar com questões burocráticas legais, tanto pelo fato de o mesmo já viver em uma condição marginalizada, quanto por seus lucros não representarem nada se comparado na escala dos bilhões que este mercado movimenta; os grandes magnatas da droga é que precisam justificar de onde vêm seus impérios. E é exatamente neste ponto que o discurso antiproibicionista põe o dedo na ferida, ao denunciar a dependência mutua entre os bancos internacionais e os carteis de drogas. Instituições financeiras como HSBC, American Express Bank International, ING Bank, dentre várias já estiveram envolvidas em escândalos com lavagem de dinheiro de carteis. Bancos lucram absurdos para fazerem vistas grossas nas contas bancárias da rede do tráfico.

Já no mercado legal a proibição das drogas beneficia diversos setores da economia, entre eles o Bélico. O Governo Nacional investe milhões em armamento pesado todos os anos. Estima-se que este setor venha crescendo cerca de 10% ao ano no Brasil nos últimos anos. De que outra forma este mercado se desenvolveria fornecendo até mesmo tanques de guerra e caveirões para o governo se não vivêssemos de fato em uma guerra? A mega indústria do medo, mais uma vez justificada na guerra as drogas, gera dividendos enorme para o grande capital.

Se do ponto de vista puramente econômico o proibicionismo é um sucesso para o Estado Burguês, do ponto de vista social não é diferente. De que outra forma o estado de Exceção seria tão legitimado pela massa e adotado como forma de política permanente de controle social? O traficante de drogas visto pela maior parte da sociedade é um indivíduo com endereço, cor e classe social muito bem definidos e qualquer um que se enquadrar neste padrão pode a qualquer momento ter seus direitos violados pelo estado (inclusive o da vida, pois para estes a pena de morte é legitimada).

O Sistema Penal por sua vez, funciona perfeitamente no Brasil. Não nos enganemos: ele funciona exatamente como deve. Qualquer agente do Sistema Penal Brasileiro que negar a existência de uma “clientela preferencial” ou é ignorante ou é desonesto. Desta forma podemos perceber o Sistema Penal como um braço forte da burguesia no controle das massas.

Juarez Cirino dos Santos, presidente do Instituto de Criminologia e Politica Criminal (ITCT) e advogado criminal militante, afirma que o Sistema Penal nada mais serve que para fazer uma “limpeza social”, onde indivíduos que não são uteis para a ampliação do capital são excluídos e encarcerados. Ele define este sistema como: “A guerra do Estado Capitalista contra os que não produzem”.

O curioso é que quando analisamos os espantosos números da população carcerária do país, que, diga-se de passagem, está entre as quatro maiores do mundo e caminhando para ser a primeira, nos deparamos com cerca de 674.000 detentos. Mais curioso ainda é que deste total mais da metade foram condenados por algum crime envolvendo trafico de drogas. Fica claro como o proibicionismo trabalha no âmbito social a favor da classe dominante encarcerando, oprimindo e matando a classe pobre, sempre sob a justificativa da guerra.

Ao nos fazermos novamente a pergunta do início do texto: “Porque o estado burguês não acaba com a guerra as drogas?”, a resposta é clara e objetiva: Por que não existe capitalismo sem guerra.

Elizeu Santos.

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A Polícia segue enxugando gelo.

A Polícia segue enxugando gelo, enquanto jorra sangue nos bairros pobres.

Ítalo Coelho de Alencar.

O noticiário veiculou*, orgulhoso mais uma prisão de alguns “barões do tráfico”. Como foi na avenida Beira-Mar de Fortaleza, rostos não foram mostrados, assim como as casas não foram invadidas por repórteres. Exaltou-se a ação vitoriosa da Polícia Federal. Mais de 20 prisões! Mas a pirâmide empresarial do tráfico deve ser um tanto maior, não?! Muito esforço para quase nada, pois o esquema é bem mais profundo.Enquanto isto o tráfico é a melhor desculpa que a burguesia tem para seguir exterminando pobre todos os dias nas favelas, com a “carta branca” de “Guerra às Drogas”. E muita gente lucra com isto!

Os barões do tráfico estão nos salões acarpetados, nas colunas sociais, em festas pomposas do bem sucedido empresariado meritocratas, nos clubes fechados e resorts país a fora. Os bilhões anuais que o tráfico lucra não está guardado em caixas de sapato, nas vielas e becos das periferias da américa latina. O lucro bruto de R$50 em um grama de cocaína não fica com o varejista. Nem nos gramas da maconha-lixo prensada que se vende por ai. É regra básica do comércio de qualquer mercadoria. A Mais-valia – extraída sob a ponta da baioneta do Estado e das leis do Tráfico – dos “aviões” “mulas” e “soldados” é gigantesca.Assim como as consequências sobre suas vidas miseráveis, sem acesso ao mínimo do “bem-estar social” deste “Estado Democrático”. A população, que muitas vezes trabalha em empresas ¹ (bancos, construtoras, hotéis, empresas de ônibus e um longo etc.) que lavam dinheiro do “tráfico gourmet”, vive os dissabores da exploração no trabalho, assim como os serviços prestados por seus patrões, como do transporte público. Prova também do gosto amargo de sangue que toma de conta de seus bairros, mata seus parentes e amigos. Do terror vivido a cada ida e retorno do ganho do pão diário.

Os Governos, liderados por políticos e partidos financiadas por estas mesmas empresas, se lambuza na grana dos impostos e negociatas corruptas no Estado, nos relega migalhas e nos cassam direitos básicos, que dizem respeito à nossa dignidade, como os trabalhistas e previdenciários. Investem, cada vez mais massivamente em aparato policial, construção de cadeias (um agrado aos amigos empreiteiros!) etc. Se nos revoltamos, vamos às ruas, lançam sobre nós as mais sofisticadas armas de guerra. Tudo novinho em folha. Democraticamente testados na Palestina e Haiti. A internacionalização da repressão! Escolas?! Fecham! Hospitais?! Também. Não dá tanto lucro assim! Investe-se em compra de remédios que “curam” uma doença e lhe dá mais duas, de brinde. Aceitam o uso da “erva do diabo” no tratamento de doenças, mas só parte dela, como um mal domado, pois isto faz com que os laboratórios possam lucrar e deter o monopólio. Nos fazem crer que uma parte de uma plante é melhor do que ela toda, desenvolvida por seleção natural em milhões de anos. Portanto, plantar Maconha é crime!!

E nós, vítimas desta “rebordosa”, o que faremos?!Chorar já não tem adiantado! Reclamar no Facebook, tampouco. Não se resiste via Whatsapp. É hora de ocupar as ruas! Cruzar o braço nas fábricas e no comércio. As universidades têm de parar para pensar neste problema! Temos que exigir respeito. Exigir LEGALIZAÇÃO para que a grana bilionária do comércio de drogas seja revertido para o sistema da Saúde, multiplicando clínicas terapêuticas sérias (não a indústria das internações comandadas por Igrejas), mais hospitais, psicólogos, Assistentes Sociais etc. Assim como Educação, para a prevenção. A exemplo do que ocorre com o Cigarro, que tem o numero de usuários diminuídos, que o álcool seja controlado, assim como maconha, e demais drogas. Não mais propaganda de cerveja que tentei nos fazer pensar que a mulher é um acessório do churrasco ou “tira-gosto” na praia. Chega! Nem que nos façam crer que a cerveja, o vinho ou whisky vão dissolver nossos problemas, nos dar carros novos ou aumentar nossa performance no esporte! Álcool mata. Causa cirrose, dependência química. Machistas bêbados matam “suas” mulheres. As pessoas precisam saber disto, para, daí, optar ou não por beber! Não o contrário. Precisamos falar com os jovens sobre Cocaína, pedra (Crack), lança perfume, doce (LSD), bala (Ecstasy) que “dão lombra”, ou seja, dão prazer. Mas têm consequências sérias na vida de quem não pode ou sabe usá-las. E não é o policial ou padre/pastor que vai falar a linguagem deles, na escola. É gente que estuda seriamente o tema. São professores e pesquisadores dos efeitos sociais, químicos e físicos no usuário e a sociedade que lhe cerca. Papo careta não ajuda! Quem é ou foi jovem sabe bem disto! Quanto mais “pesadas”, mais educações sobre ela há de haver! A “política do avestruz”, com a cabeça na terra e corpo na realidade, se mostra falida, cega!

É árdua, mas a luta pela LEGALIZAÇÃO é urgente! É a diferença entre o caos que vivemos e uma possível vida ruim. Quem sabe, até feliz!

“Se queres paz, te preparas para a guerra!”. “Se não queres nada, descansa em paz”!

 

 

Chega de hipocrisia!

Chega de morte!

 

¹ http://www.oolhodahistoria.ufba.br/04coggio.html

*http://www.opovo.com.br/app/fortaleza/2015/10/22/noticiafortaleza,3522763/policia-federal-apreende-10-kg-de-cocaina-em-flat-na-beira-mar.shtml

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Novo Blog do Coletivo Plantando Informação

A guerra às drogas é responsável por mais da metade dos homicídios no Brasil, além de estar diretamente relacionada com a super lotação do sistema prisional brasileiro. Atraídos por dinheiro fácil, jovens entram cada vez mais cedo para o crime, destruindo assim a perspectiva de toda uma juventude que tem mais do que potencial para ser agente direto nas mudanças sociais que a periferia precisa.

O Coletivo Plantando Informação acredita que só com o fim da guerra às drogas, a legalização e uma série de políticas voltadas para juventude, teremos uma mudança de fato nessa realidade. Em 2016 o Plantando completa 8 anos, com mais disposição do que nunca continuaremos levantando a bandeira antiproibicionista, e lutando contra todo tipo de injustiça social.

Este Blog é mais uma plataforma de comunicação que usaremos para difundir nossas ideias quanto coletivo e ativistas que lutam por uma política de drogas que respeite os direitos humanos no Brasil. O intuito é simples, plantar informação.

Em 2016 a Marcha da Maconha de Fortaleza será realizada no dia 29 de Maio a partir das 14:00h na Estátua de Iracema, e por aqui, faremos uma cobertura completa dos eventos pré-marcha além de estar sempre postando as novidades e detalhes sobre a organização da manifestação. As reuniões da marcha estão acontecendo em finais de semanas alternados no Centro Dragão do Mar, a próxima reunião será nesse sábado dia 27/02 a partir das 15:00h na Praça verde. É de luta? Então chaga junto pra fortalecer.

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Fortaleza já definiu data para a Marcha da Maconha 2016

Dizem que o ano só começa depois do carnaval, mas para o calendário antiproibicionista, o ano começa em maio, quando fazemos o tradicional percurso de marcha pela legalização, na Praia de Iracema em Fortaleza. Maio Verde é mês em que a luta antiproibicionista ganha um novo oxigênio e a sociedade civil abre um pouco mais de espaço para o debate e para a informação. Maio é também o mês em que mais 28 cidades se mobilizam e marcham em prol da legalização do uso medicinal e recreativo da maconha, e também por uma nova política de drogas.

Até maio, há muito trabalho a ser feito e as reuniões de organização da Marcha da Maconha 2016 em Fortaleza já começaram. O primeiro encontro aconteceu no Centro Dragão do mar de Arte e Cultura, e contou com a participação de jovens de vários bairros de Fortaleza, dispostos a contribuir com o movimento antiproibicionista e por entender que a guerra às drogas tem como alvo não a substância, mas uma parcela da sociedade muito bem delimitada. A guerra às drogas mata e quem morre tem cor, classe social e faixa etária muito bem definidos.

A Marcha da Maconha Fortaleza é o ápice de nossa jornada, o momento em que nos reunimos em uma grande manifestação política, mas não paramos por aí. A luta é construída diariamente, ocupando os espaços e levando informação. Em 2016, o ato acontecerá no dia 29 de maio, com horário da concentração marcado para 14h, em frente à Estátua da Praia de Iracema.

Interessados poderão acompanhar as novidades através das páginas oficiais ou através do evento criado na plataforma do facebook.

Fan Page oficial:

Marcha da Maconha Fortaleza

Coletivo Plantando Informação

Evento oficial:

Marcha da Maconha Fortaleza 2016

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Quem Somos

A luta antiproibicionista é horizontal, aberta, sem hierarquias, apartidária.
Essa luta é feita por vários agrupamentos. O Coletivo Plantando Informação é um desses agrupamentos, que na prática tem um grupo que desenvolve uma liderança.

Esse grupo somos nós, o “ARTICULAÇÃO – Plantando Informação” que articula as atividades do Coletivo Plantando Informação.

Nós fazemos parte da luta antiproibicionista e somos referência em Fortaleza por ser um grupo que levanta única e exclusivamente essa bandeira!

Cold beer

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Carta de Princípios

O Plantando Informação é um coletivo antiproibicionista cearense, formado por integrantes de diversas áreas da sociedade civil. Atuante na luta por mudanças que respeitem os direitos humanos na elaboração de uma nova política de drogas no Brasil.
Entendemos que a atual política de drogas é falha, que sustenta-se sobre o discurso de proteção à saúde pública, escondendo uma política de controle social através da criminalização da pobreza, dos negros e da juventude, além de manter o monopólio de um mercado, que movimenta bilhões por ano, no controle de organizações criminosas.
Entendemos que um mundo livre de drogas é uma utopia e que devemos aprender a conviver com elas de modo que tragam o menor dano possível para o indivíduo e a sociedade ao invés de empenhar nossos recursos em uma guerra para erradicá-las.
Defendemos a descriminalização dos usuários de drogas e a legalização do uso industrial, nutricional, medicinal, religioso e recreativo da cannabis sativa, assim como a regulamentação do cultivo para consumo pessoal e do comércio baseado em pequenas produções.
Nos organizamos de forma horizontal, sem hierarquia nem lideres, através de assembléias abertas, utilização de redes sociais.
Atuamos promovendo atividades que fomentem a discussão sobre a questão das drogas, disseminando informações cientificas sobre substâncias psicoativas ilícitas nas universidades, televisão, ruas, praças públicas e etc. Além de integrarmos o movimento Marcha da Maconha Brasil.”

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